domingo, setembro 26, 2010

o céu é o limite.




            Em um dia comum, no mar de algum lugar comum, uma ostra descobriu que havia algo diferente dentro dela. Algo tão lindo que ela jamais imaginou que pudesse existir, tampouco que dentro de uma pequena ostra habitasse tão belo tesouro. E dia após dia o seu tesouro se tornava mais lindo, mais brilhante e mais reluzente. Ainda que quando a ostra adormecesse, o seu tesouro parecesse perfeito, ele mostrava-se ainda mais belo pela manhã. Tamanho era o apego da ostra por aquele tesouro, tão seu, floresceu dentro dela, que a pobrezinha então passou a ter pavor de que alguém pudesse lhe arrancar aquilo que era o seu bem mais precioso. E a partir daquele dia decidiu que iria repelir o interesse de qualquer ser em descobrir o que poderia haver dentro dela. E então passou a investir toda a sua energia em tornar-se o mais áspera e mais feia que conseguisse, dia após dia, para tentar evitar que qualquer um se aventurasse a tentar abrí-la, e assim, ninguém jamais descobriria o seu tesouro tão intimo e tão seu.

            Até que um dia, um pescador muito simples, de mãos ásperas, ao puxar sua rede pela manhã, deparou-se com uma pequena ostra, feia e áspera assim como suas mãos castigadas pelo trabalho. E então, como aquela criatura não lhe despertava interesse, calma e delicadamente desembaraçou a pequena ostra da rede, e quando ia devolvê-la ao mar, lhe despertou o mais traiçoeiro dos sentimentos, e a ostra ficou curiosa em saber de quem era aquela mão tão delicada e até, de certa forma carinhosa. E para saciar sua curiosidade a ostra, lentamente, abriu uma frestinha, mínima, mas não pôde evitar que escapasse o brilho mais intenso e ofuscante que o pobre pescador havia visto. Fascinado, quase hipnotizado, o pescador em um ato inocente tentou abrir a ostra, na intenção de descobrir o que seria capaz de ser tão brilhante, e esta por sua vez tentava trancar-se novamente e os dois depositaram todas as suas forças naquele duelo que não durou sequer um segundo, mas a energia era tanta que quando a ostra enfim se abriu, violentamente, a pérola foi lançada ao ar, caindo ao mar. E enquanto descia silenciosamente, era contemplada por todo o oceano,

            Ao fim de sua imersão, a pérola caiu ao colo de Netuno, que como todo e qualquer ser dotado de sentimentos, ficou maravilhado com o que “o céu” lhe trouxera, e com a humildade e a sabedoria de um rei, decidiu que um tesouro tão belo, tão brilhante e único, não poderia ser submetido ao frio e à escuridão do mar profundo. Então o Rei dos Mares decidiu presentear à lua, dando-lhe aquela jóia tão preciosa, retribuindo aos céus o presente.

            Então, a lua, de posse daquela preciosidade, ficou enaltecida e lisonjeada. E assim como todos, mortais ou não, identificou-se com os encantos e mistérios daquela pérola, e também não se sentiu confortável em ter a propriedade sobre algo tão especial. Foi quando a lua, no exercício de seus poderes, e com a elegância de uma rainha, reconhece que não era consigo o lugar daquele tesouro e resolveu usar de toda a sua magia e já que tinha luz própria, fez daquela pérola, uma estrela.

            Hoje, sabe-se que restou; à Lua e a Netuno, um flerte com uma troca de presentes; Ao pobre pescador a lembrança de sentir, na palma da sua mão, o brilho de uma estrela; e à ostra, resta olhar para o brilho das estrelas e alimentar a esperança de que um dia venha a nascer dentro dela outro tesouro.

por :  Pedro, um amigo meu.